2º Dia - Cachoeira dos Rolinhos

Hoje acordamos com o sol, céu parcialmente nublado, tempo bom para enfrentar as estradas do Parque Da Serra Da Canastra, parte alta como falam por aqui. Tomamos um belo café da manhã calibramos os pneus para este tipo de piso e partimos rumo à São Roque De Minas, cidade que dá acesso à estrada do parque. De Vargem Bonita à São Roque, decidimos ir por estrada de terra, com isso rodamos 10 quilômetros a menos. Também pode optar em ir por asfalto, excelente ideia se estiver chovendo. Passamos pela cidade e logo começamos a subir a serra. Logo de inicio dá para perceber como vai ser o percurso durante o passeio, estrada com cascalho, sem cascalho, lama, pedras soltas, erosões, não é fácil manter 350 kg na linha, mas vamos nessa! Quase ao final da serra fica a portaria do parque, pagamos cinco reais por pessoa e continuamos subindo. Há alguns anos atrás nesta mesma portaria, ao chegar pela manhã com minha xr 200, que tenho até hoje, além do guarda, estava lá também um Lobo Guará andando como se fosse um cachorro doméstico. Depois de involuntariamente realizar milhões de cálculos com intuito de manter a moto em pé, chegamos à parte alta do parque. Aqui a coisa ficou um pouco melhor, mas não se engane, só um pouco. A estrada em certos trechos é de barro duro e como chove muito nesta época do ano, não preciso nem dizer o sabão que isso se torna. Brilhou, Ferrou, este é o lema. Já andei por estas bandas de XR 200, mas de GS 800 Adventure, que equivale quase três da outra em peso, com pneu inapropriado, não é mole não! Seguimos apreciando a beleza do parque, porque uma coisa é certa, a natureza é indiferente ao que se passa nas estradas. Depois de andar por meia hora chegamos a outra estrada que leva à Cachoeira do Rolinhos mas, fomos surpreendidos com uma placa que dizia: “Estrada Interditada”. Achávamos que a interdição era somente para veículos então, resolvemos continuar. No início estava tudo bem, a estrada seguia em boas condições, mas logo à frente, avistamos uma poça de água, passamos sem grandes problemas. Andamos mais alguns quilômetros e outra poça, desta vez um pouco maior, passamos sem grande problema. Depois de andarmos um bom tempo com estrada boa, lá que surge a terceira poça de água e tibufi, chão. Levantamos, tudo certo, nada quebrado, afinal caímos quase parados, moto arriba e lá vamos nós. Lá vamos nós somente mais alguns quilômetros, porque adivinha, outra poça, desta vez bem mais funda. Ali no meio do nada, tinhamos duas opções, voltar ou seguir a pé, optamos seguir em frente, mesmo avistando chuvas ao longe e foi a melhor escolha. Andamos a pé por cerca de 40 minutos, quando chegamos no início da trilha da cachoeira vimos uma caminhonete que levava 20 pessoas e o mais incrível foi ver um carro polo da VW, eles já estavam de partida, inacreditável como conseguiram chegar lá. Ficamos com a cachoeira só para nós e por lá permanecemos por uma hora. Céu escurecendo, é hora de partir. Mais 40 minutos e lá estavam as motos no meio do mato. Neste percurso vimos uma pequena cobra, vários insetos que chamavam a atenção pelas cores exuberantes. Subimos nas motos e começamos a voltar, poça, poça, poça, mas desta vez sem problemas. Quando estávamos próximos da estrada principal, veio ao nosso encontro uma caminhonete do “ICM”,Instituto Chico Mendes. Desta caminhonete desceu um funcionário do Governo já falando que não poderíamos estar ali, alegou a princípio ser crime ambiental o fato de estarmos lá porque a placa dizia que a estrada estava interditada. Pediu nossa habilitação, tirou foto das habilitações e das motos, estava fazendo a maior pressão.
Fiquei indignado e logo disse:
_Como pode isso, crime ambiental, as estradas deste parque estão completamente abandonadas, não há manutenção alguma! Este lugar é visitado por milhares de pessoas, em feriados e vocês não fazem nada!
_Passamos o trator mês passado.
_Mês passado? isto aqui requer manutenção no mínimo semanal.
Depois veio com uma conversa de que a cachoeira do Rolinhos estava fechada e que era proibido a visitação. Mas quando falamos sobre as bicicletas que por lá estavam, o mesmo disse:
_De bicicleta pode.
_Então se eu for de bicicleta eu posso nadar na cachoeira?
_É,ha,é,
Indaguei ao funcionário sobre a caminhonete que encontramos lá com vinte pessoas sendo transportadas na caçamba, e o mesmo disse não saber de nada. Os outros continuaram a questiona-lo
_O senhor está falando que não podemos andar porque a estrada está ruim ou porque isto é crime ambiental?
_É, colocamos a placa porque os carros atolavam.
_Então não é crime ambiental?
_Não, é pela estrada.
Quando questionado novamente sobre a caminhonete que lá estava o mesmo disse:
_Ha sei! era uma caminhonete branca.
No inicio da conversa não sabia de caminhonete alguma. Depois, sem falarmos nada, o mesmo confessou que esteve na cachoeira do Rolinhos com sua família há uma semana atrás, é mole!
Enfim, sem argumentos, totalmente despreparado o tal funcionário disse que não iria fazer nada, mesmo porque não tinha moral alguma, quando é sabido de todos, que foram desviados R$ 56.000.000.00 na manutenção das estradas do Parque Nacional Da Serra Da Canastra.
Deixando o desgoverno para trás, no caminho de volta, passamos na nascente do Rio São Francisco. A nascente fica quase na beira da estrada. Neste trecho de volta a coisa estava um pouco mais melecada pois enquanto estávamos na cachoeira a chuva caiu por lá. Samba pra cá, escorrega pra lá, chegamos à nascente. Na verdade o que parece à primeira vista é que o São Francisco nasce mais acima do que a placa indica. Acho que aquele local é somente simbólico, mas vale a pena segurar o São Francisco apenas com uma mão. Os primeiros pingos de chuva começaram a cair e mais do que depressa lá fomos nós descer a Serra Da Canastra até São Roque De Minas. Tudo tranquilo até o posto de combustível em São Roque, onde comemos uma coxinha, ou melhor, duas coxinhas cada, pois a fome tava brava. Desta vez optamos em seguir para Vargem Bonita por asfalto e foi a melhor decisão pois a chuva não deu mais trégua até chegar ao Camping.
Agora colocar tudo para secar porque amanhã tem mais. Inté.