28º Dia - Santa Rosa -> Colonia del Sacramento

Viajamos por estradas argentinas vinte e quatro dias e hoje foi o último dia neste país. Nestas três semanas, fomos bem recebidos pela maioria dos hermanos que encontramos pelo caminho, se esforçavam para nos atender e entender, ficavam mais dispostos a uma conversa quando falávamos a “palavra mágica”: Brasil. Não tivemos nenhum problema com a polícia argentina, pelo contrário, em todas as vezes que pediram para parar, foram solícitos e educados, alguns batiam continência, com um leve sorriso no rosto, sinalizando respeito ao nosso feito. O mesmo aconteceu com os caminhoneiros, que em sua grande maioria demonstram ter grande admiração por malucos em suas motos, quando nos veem, ao longe começam a cumprimentar piscando os faróis, muitos carros fazem o mesmo. A argentina deixou a impressão de ser um país onde o povo é bem humorado, otimista, de certa forma, com alguns problemas parecidos com os nossos, mas em geral, uma grande nação.
Hoje seguimos rumo a Buenos Aires, tínhamos que pegar o último BuqueBus do dia com destino ao Uruguai, assim, compensaríamos o dia parado em Neuquén. Retas, retas e retas, com calor de rachar o capacete, agravado pelo aumento do fluxo de carros e caminhões, tendo que chegar às 18h:30 em Buenos Aires, comprar o cartão de embarque, passar pela migração, e embarcar antes das 19h:30, fez este dia parecer uma provação. Próximo a Buenos Aires o trânsito ficou intenso, eram 17h:30 e tínhamos que atravessar toda cidade para chegar no porto, agora era confiar no gps e torcer pra coisa melhorar. Seguimos por uma via expressa que corta a cidade, onde em certos trechos a velocidade máxima é de 130 km/h, isso ajudou muito, mas quando saímos desta via, travou. O relógio marcava 18h:00, estávamos perto, mas devido a um protesto, ato comum em Buenos Aires, os carros não andavam. Fomos cortando, desviando, espremendo, até ficar próximo do portão que da acesso à fila de embarque, aí travou, o protesto estava na rua que tínhamos que entrar, o relógio marcava 18h:15, tudo parado, olha daqui, olha de lá, observamos que a pista contrária estava vazia, não tivemos alternativa, forçamos para que alguns carros dessem passagem, seguimos por 300 metros na contramão, até chegar na saída que dá acesso ao embarque, paramos as motos na fila às 18h:25. Corremos para cabine da empresa compramos os cartões de embarque, fizemos a migração e ainda deu tempo para tomar umas duas latas de Coca-Cola. Quando estava na fila, onde ficam os veículos esperando a hora de embarque, um policial argentino junto com seu amigo labrador, se aproximou e disse: os documentos por favor. Enquanto seu amigo cheirava a moto, o mesmo, olhando para moto, disse: está de férias, para onde vai. Ai falei: estou voltando do Ushuaia. Ele arregalou os olhos, olhou nos meus olhos, entregou os documentos que ainda não havia examinado por completo, e saiu andando junto com seu amigo, fiquei com a sensação de ter falado uma “frase mágica”. Depois de todos estes dias na argentina, embarcamos com um nó na garganta, um sentimento que se mistura entre, estar feliz, afinal uma das principais etapas desta viagem foi bem sucedida, e o outro, é de certa tristeza, pois o fim desta jornada se aproxima. Agora estamos em terras uruguaias, quase que um Brasil, vamos comer e descaçar, ainda têm muita estrada pela frente. Amanhã, depois de 25 dias, será o último que vamos escutar a língua espanhola como som de fundo, abastecer as motos com gasolina de verdade, deixar de se preocupar menos com roubos ou assaltos, trafegar por estradas sem buracos, ser respeitado pelos caminhões, usar um banheiro de posto limpo, enfim…