30º Dia - Rio Grande -> Jaguaruna

Acordar no Brasil, depois de alguns dias fora, mesmo faltando cerca de 1300 km para chegar em São Paulo, nos fez sentir estar em casa, parece até besteira o que vou dizer, mas quando estamos fora do país, temos que nos concentrar para entender o que vão “hablar”, isso com o tempo cansa, então, quando involuntariamente escutamos uma conversa, em um restaurante na mesa ao lado, nas filas dos passeios, nos elevadores dos hotéis, enfim, não prestamos atenção, o cérebro parece desligar este setor com intuito de poupar energia. Ao retornar para o Brasil, a primeira coisa que notamos, foi ter compreendido perfeitamente o diálogo entre um pai e sua filha, no começo a sensação foi estranha, fez parecer que aquela ação, de entender o que falavam sem estarmos participando diretamente, era uma invasão, parecia que prestávamos atenção propositadamente, mas não era o caso, simplesmente escutávamos e entendiamos, mesmo sem querer, mesmo que em gauches. Essa sensação durou pouco tempo, alguns minutos depois já nos desligávamos automaticamente das conversas alheias, foi estranho.
Saímos do hotel e algumas quadras depois já estávamos na fila da balsa. Pegar uma que saia no horário marcado, depende diretamente das condições climáticas, se ventar forte, elas atrasam ou interrompem os serviços. Como hoje ventava muito, ficamos além da hora programada esperando na fila. Choveu, fez sol, choveu de novo, e nada da balsa chegar. Após aguardar por cerca de 40 minutos, ela aportou. Primeiro descem os pedestres, depois os carros, em seguida as motos, e por fim as carretas. Para embarcar é ao inverso, primeiro entram às carretas, e essas demoram muito para manobrar, depois os carros, e em seguida as motos e pedestres, muitos com suas bicicletas. Tudo ajeitado, ela parte, e em menos de 20 minutos chegamos ao outro lado, demorou mais esperar, do que efetivamente atravessar. Sem perder tempo, pois o relógio marcava 11h:00 e não tínhamos andado nem mesmo dois míseros quilômetros, saímos da balsa acelerando, cruzamos a cidade de de São José do Norte, onde desembarcamos, que nem lembro. O ritmo de velocidade nesta estrada, caiu bastante em relação ao que vinhamos praticando até ontem, são muitos radares, lombadas e buracos na pista, aqui redobramos a atenção, pois em certos trechos, fomos obrigados a praticamente parar as motos na pista e escolher qual lado podíamos passar sem cair em uma cratera. O que é muito perigoso, e costuma ser corriqueiro por todo país, são trechos da estrada em perfeitas condições de uso, com faixas pintadas, acostamentos, placas, que infelizmente traem nossa confiança, pois, quando nos acostumamos com aquelas condições de tráfego, quando achamos que tudo está bem, sem explicação ou sinalização nenhuma, aquela estrada perfeita, se transforma em uma superfície muito parecida com a da lua, fica intransitável. No primeiro susto que tomamos, afinal as placas sinalizam a velocidade máxima de 100 km/h, mas de repente não é possível nem mesmo andar a 10 km/h, fez a confiança desaparecer dentro de um daqueles buracos. Assim foi até chegar em Osório, onde daqui pra frente, a BR-101 se parece mais com uma estrada europeia, parece até que mudamos de país. É inacreditável o descaso, a alguns minutos atrás, andávamos por um país abandonado, sujo, agora estamos em outro, estruturado, bem cuidado, aqui a desigualdade é abrupta. Mantendo o ponteiro em 120 km/h, velocidade confortável para os pneus Heidnau, desligamos as motos 18h:30 no estacionamento do hotel em Jaguaruna, cansados, mas felizes, por hoje acontecer tudo como o planejado.